Eram cerca das 9:30 quando soou o apito na estação do Livramento. A carruagem estava a postos, as locomotivas encarrilavam nos carris. Paulo Pais, o organizador, qual chefe de estação, soava o aviso. Contagem decrescente para o "contra-relógio" por equipas, em ambiente de risada e boa disposição.
Nós vamos atrás avisavam os Pinas!
5,...4,...3,...2,...1..., vão!, para João, Rocha, Manso, Francisco, Marco, Duarte, Feliciano, Mário e João da Murgeira.
Após 5 kms a média era de 42 Kms/h. Um bom pronúncio do que estava para vir. Calma, era a palavra que se ouvia mais.
Juntaram-se corredores e ex-corredores que de um modo geral souberam defender o espírito de grupo, ora alertando ora refreando a adrenalina que existe nestes contextos. Muito bem.
Até Torres Vedras o ritmo previa uma boa tirada, com a rendição a efectuar-se de igual modo. Cedo se percebeu que as viragens nas rotundas "esticavam" o grupo que motivava algum refreamento de quem puxava. De um modo geral a comunicação foi assertiva. O encorajamento foi também uma constante, facto que devo realçar.
- Vasa, olha os andamentos pesados, disse o Marco, que foi uma surpresa. De facto estava a exagerar. Foi oportuno, deu um jeitão, pois ia mesmo distraído e faltava muito para chegar ao destino. Acatei.
O João tentava coordenar o pessoal, assim como o Duarte, tentando manter o ritmo constante nas subidas onde havia diferenças de andamento e acelerações bruscas que iam causando mossa. As descidas eram feitas a top.
Eu lá ia avisando para irem comendo, pois o pessoal entusiasma-se e as reservas não duram para sempre.
Estava ainda frio, a disposição não era a melhor, como vai sendo costume de inicio. Pensei:
-É normal, já melhora, pensei para mim. E melhorou durante o percurso. As sensações eram boas, embora as pernas, me dessem informação de que estavam ligeiramente "presas".
Á saída de Torres, via Bombarral, avistávamos o grupo que tinha partido à nossa frente, todos de Côr de Rosa.
Após Ameal, o Rocha avisava que iria largar. Preocupação no grupo, com o Mário a inteirar-se da situação:
-Foi furo?
-Não, ele vai largar, respondi.
Continuámos o ritmo imposto sem baixar demasiado. 40 de média até ao Outeiro. Nada mau!
Desde o Outeiro, lá comi meia barra. Estava perto a minha vez de render e era preciso aproveitar. Mãos na mariquice, (extensores) e toca de embalar a menina KTM progressivamente. Que gozo passar a alta velocidade pelos grupos. Velocidade que foi aumentando atingindo os 70 kms hora. iiiiIÀAÀÀÀ!
Em Bombarral abrando-se ligeiramente, por culpa de automóvel. A saída do Bombarral ficou por minha conta, mais uma vez progressivamente, com a rendição a fazer-me ouvir palavras de incentivo do João:
-Tás bem? Eu vou a 130...
-Tou, e pensei para os meus botões, bem mal, lembrando-me do que tinha dito o Mário no Outeiro, que deu origem a risota.
Mais uma vez as descidas eram feitas a top, com algum exagero do João, que motivou protestos consensuais. Mais uns goles de agua, e outra vez a puxar.
- Olhei antes disso para o mostrador da velocidade, para inteirar-me do que trazíamos e sem darem conta acelerei mais um pouco, para mais à frente abrir. O Xico empenhava-se em manter o passo. Estava-mos perto da do cruzamento da passagem de nível, com o Manso a assumir as despesas,passando pela frente. Boa atitude. Eu, olhava para o apeadeiro e certificava-me que ninguém estava presente para apanhar o comboio,...desculpem TGV.
Óbidos, aproximava-se e era onde iríamos voltar para trás. Daria para verificar o avanço que trazíamos, face às equipas que partiam atrás de nós. Isso deu-se perto do túnel. Avanço mais do que suficiente.
Se eu em tempos tive muitos traumas nas subidas, agora era a vez das descidas. Foi lá que sofri mais durante este percurso. A aproximação ao Bombarral faz-se com um "falso" plano que causava a segunda baixa. O Manso abdicava. Sem saber o meu destino estava ali bem perto. Debaixo do aqueduto, uma bicada na parte anterior da perna esquerda, dava sinais que devia deixar de enrolar...mais à frente outra, e outra e pumba, "f*%&-s€, pensei...
-Pessoal, vou sair, dei o estouro, avisei
-Epá vai na roda, não puxes, gritava o Xico, pois se conseguisse a perna estava mesmo "furada"...
-Eles continuavam, enquanto olhei para trás, esperando pelo Manso, e aliviando a pressão na perna esquerda.
Quando colou, coloquei as mãos nos extensores e voltei a enrolar. Revezando-nos, fomos a bom ritmo, nunca baixando dos 37 em plano, atingindo mesmo 45 em alguns pontos, baixando para o mínimo de 32 e 27 em alguns locais até Torres.
Em Torres esperava-nos o Rocha. O apoio moral foi uma constante. Avisava-o para não se meter com o carro à nossa frente. Determinei que iria chegar ao Livramento sem ser apanhado pelos Pinas. Era o meu novo objectivo. Os topos que existem antes do Livramento foram feitos com juízo, para não massacrar as pernas. No entanto onde menos esperava, no cruzamento sul do Turcifal, fui traído. Mais uma vez a perna esquerda dizia que não queria mais colaborar e desta gritou bem alto. Aliás gritei bem alto. A dor era de tal modo intensa que não dava mesmo para recuperar, nem tão pouco aliviar. Completamente "presa". Só me apetecia era...bem já passou. Tive mesmo de parar. Era ultrapassado pelos Pinas, mesmo antes de ter incentivado o Manso a continuar, que teimava em não me abandonar.
Bastaram alguns minutos, eternos, para a contracção muscular aliviar e poder montar novamente no "Bolide"...que seria agora um "vaporzinho" a pilhas....lol. A subida em Livramento foi feita com companhia de alguns Pinas que se encontravam na mesma situação.
Chegado à meta, lá estavam os meus amigos. A preocupação foi para o Manso:
-Foste alcançado...ele percebeu e disse não! tentei desmontar e mais uma vez as cãimbras a prejudicarem-me. Que situação embaraçosa. Há anos que não sabia o que eram caimbras. Que chatice, estava a sentir-me tão bem antes do Bombarral, e durante o tempo que vim com o Manso!
Paciência, parece que o TGV chegou a horas perdendo algumas carruagens, devido à velocidade dos maquinistas! Média 39,9 Kms/h para 105 Kms
Ps.: TGV - Todos gostam de velocidade!