quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Estamos de LUTO

Corro o risco de exposição neste momento de pesar.

O nosso amigo Rocha perdeu o sorriso do seu Pai.
Tive oportunidade de o conhecer, quando da nossa volta Torres-Fatima-Torres. Além de minha mãe, também "corri" no meu intimo e com solidariedade pelo pai do Rocha.
Felizmente, tudo correu bem com a minha mãe.

Certamente que onde estiver, o pai do Rocha não esquecerá o gesto de todos que o acompanharam.

Para ti Rocha e para toda a tua família neste momento de pesar, as minhas mais sinceras condolências.

domingo, 27 de setembro de 2009

Cadel Evans Campeão do Mundo de Elites

Arrasador!
Tocante, é a expressão que consigo encontrar ao ver a emoção de Cadel Evans após ser corado Campeão do mundo de elites de estrada. Gosto de Cadel Evans. É humano.

Umas palavras relativamente ao "passeio" de hoje até Cascais.
Após o atraso de 5 minutos, motivado por ter adormecido e acordado, a 45 minutos das 8:00, iniciámos a longa tirada com um pelotão significativo que durante o seu percurso, somou mais elementos: Albano, Cajó, e mais tarde, Manso e Rocha.

As hostilidades começaram na Carvoeira com o Chico a colocar um passo demasiado duro para a maioria do pelotão, e a fazer estragos que motivaram uma perda de ritmo, com muitos grupetos. Esta atitude iria-se repercutir no resto da tirada.

Da ultima vez, o grupo mais coeso, chegou a Sintra em menos tempo. Nota negativa, que tive oportunidade de manifestar, à qual fui surpreendido com a resposta:
-Este é o meu passo a subir e ninguém me tapa o passo- depois de, na mesma subida assumir as despesas na frente, sendo surpreendido pelo ataque do Chico, que se achou "tapado".

Fez-me lembrar as vezes que o pessoal em tom de brincadeira pergunta:
-Vieste sozinho?

Adiante, todos temos os nossos piores dias...principalmente quando se encontram velhas "picardias" nos mesmos grupos.

Chagados a Sintra, mais um episódio, que motivou o meu descontentamento. Afinal onde fica a Peninha...Ninguém acatou a boa sugestão de que era para a esquerda. Rumo a Colares, com a sua subida mais uma vez executada a Top, com o Manso a assumir as primeiras despesas, seguidas por mim, e depois pelo Espinha, seguidas do Tiago com o Chico sempre a acompanhar. Após o Espinha ter desencadeado as despesas, o pelotão partiu-se. Mais à frente, abdicou de puxar e o Chico assumiu o comandos com um ataque, que naquela altura, me surpreendeu. Primeiro, o porquê do ataque, depois porque parecia um "ataquezinho"...pois foi de imediato alcançado pelo Tiago, comigo a controlar o meu passo. Nesta altura abrandei, pois achei demais, pelas razões que já apontei, que se prendem mais com o estado anímico do que o físico. O meu abrandamento, foi suficiente para ser alcançado pelo Espinha, que passou em bom ritmo. Os 25/30 metros que o duo da frente ganhou eram esbatidos, com a referencia do Espinha que quase os alcançou.

Francamente, o Manso e a seu bom senso voltaram a predominar, tal como tinha acontecido, na Carvoeira. Sugeriu voltarmos para trás, e "recolher" os que tinham decidido não ir em aventuras.
Estiveram bem porque estavam logo ali.

Mais um "caso". Estava determinado irmos ao Estoril. Dada a hora e por sugestão do Chico, deveríamos seguir:
-Tenho de estar em casa à uma hora. Força segue! respondi, quando estávamos a seguir para a direita em direcção à marginal. Gritos e toca de travar, afinal seria alteração de planos. Enfim...

Uma critica construtiva. Ora param todos e arrancam todos, ao mesmo tempo, ora, se cada um vem andar sozinho, o melhor é não empatar! As paragens constantes, que contribuem de modo significativo para o "empeno" têm várias origens:
-Passo demasiado duro nas subidas que não é acompanhado com o protocolo acordado (voltar para trás e acompanhar os retardatários), motivando oscilações bruscas de andamento;
-Paragens imprevistas, motivadas pela pouca preparação e algum individualismo;
-Desconhecimento e estudo prévio do percurso;
-Pouco bom senso, motivado pela excessiva testosterona;
-Pouca comunicação.

Por isso, voltarão a encontrar-me nestas aventuras com a mesma atitude. Quando me virem ficar para trás já sabem, voltei para trás ao encontro dos retardatários. Devo salientar as boas posturas, que todos sabem de onde vieram. Não me irei alongar mais, neste ponto.

O Calado, andava com as suas caimbras que se arrastaram desde Sintra até Torres Vedras. No total 150 kms com uma média de 27, 1 Km/h contra os 29Km /h de dia 13 de Setembro. Pensem nisto...

Também termino aqui a crónica, porque não tenho "pachorra" para escrever mais. De positivo a camaradagem que se instalou após Cascais!

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Ciclista bate Porsche

Ciclista bate Porsche

A grelha de partida para a corrida que ontem ( 09/23/2009) assinalou o Dia Europeu sem Carros em Lisboa era, no mínimo invulgar:

A grelha de partida para a corrida que ontem assinalou o Dia Europeu sem Carros em Lisboa era, no mínimo invulgar:

O piloto Pedro Couceiro ao volante de um potente Porsche 911 (modelo Carrera 4), umcidadão a darao pedal, o vereador Sá Fernandes também a pedalar numa curiosa bicicleta, um taxista com 40 anos de serviço e o autarca António Costa, que lançou o desafio, a andar de metro.

A iniciativa faz a que Costa promoveu em 1993: uma corrida entre um burro e um Ferrari pedindo o metro até Loures.

O burro ganhou. Desta vez a competição era entre o Campo Grande o Café Nicola, no Rossio.

A partida foi dada às 9h33 quando Costa entrou numa carruagem a abarrotar de gente.

No comboio, vinha tudo a sorrir com os relatos da insólita corrida. "O táxi entrou agora no corredor bus", informava um dos assessores iaometro na estaçãoRoma. E às 9h45 já estava na estação dos Anjos: "O táxi está no Saldanha". OPorsche vinha mais atrás, já empatado no trânsito.

No fim veio a surpresa: quando António Costa chegou ao Café Nicola pelas 9h53, já o cidadão, de seu nome Rui Sousa, o esperava tranquilamente há cinco minutos. O táxi chegou escassos segundos depois deAntónio Costa e pouco tempo depois Sá Fernandes. Couceiro chegou pelas 10h02.

Couceiro disse ter sentido dificuldades "noSaldanha, à entrada para aAv. Fontes Pereira de Melo". Santana Lopes tem um túnel prometido paraazonae, sabendodisso,Helena Roseta apressou-se a lembrar que "a faixa bus está indisponível devido a obras de uma companhia de gás". Apesar da derrota, António Costa estava satisfeito por ter demonstrado a lentidão do Porsche. E, em jeito de provocação lançou uma nova frase de campanha: "Se querumtúnel, vá de metro".in 24 Horas

Dom 27Set09

Vivas,

Sugiro para Domingo uma volta que também me sugeriram:

"No próximo Domingo 27 de Setembro vamos dar uma voltinha de estrada com partida às 8:00 horas da BICIGAL em direcção a Ericeira, Sintra, Guincho, Cascais, Estoril, Sintra, Lourel, P. Pinheiro, Negrais, Malveira e Torres Vedras. Os kms devem rondar 130kms, o ritmo moderado sempre a focar na união do grupo." Nuno Calado

Pessoal eu vou, embora a forma esteja a diminuir em virtude da altura do ano e do numero de horas na estrada.

Abraços,

Ps: Manso, podes sempre fazer como da ultima vez...subir a rampa de Ribamar Ericeira...eh eh eh

domingo, 20 de setembro de 2009

Crise ou oportunidade?

Crise. Este é tema que assola a sociedade portuguesa.
Crise de valores que tem conduzido o país ao actual estado.
O ciclismo não é disso alheio. Especialmente o ciclismo de alta competição.

A crise tem origem no grego que quer dizer crivo. Ontem assistimos a uma popularidade do ciclismo, uma vez mais, pela negativa. Parece que por obra sabe-se lá de quem, e fruto de tantas coincidências, o ciclismo e a Liberty Seguros foram noticia de destaque nos principais órgãos de comunicação social que normalmente nem dão atenção a esta modalidade.

Após sentar-me em casa e remexer jornais, ver algumas noticias de agências de informação, verificar as fontes, etc, conclui que existem factos que vale a pena crivar.

Coincidências:

Prémio Liberty/Liberty vai às compras/Liberty Mutual em Portugal/Liberty Doping

Estranho...timing.

Quando se vai comprar, normalmente negoceia-se, e para isso, precisa-se de uma imagem reforçada,...forte, certo?

Posso estar enganado, é claro. Pode ser apenas uma coincidência fugaz, mas saltou-me à vista.

Ao caso, obviamente reprovável por parte dos envolvidos, que é uma machada para todos os projectos de ciclismo, surge um facto interessante. Quem é que forneceu a alegada CERA? Como é que alegadamente adquiriram a substância. E porquê, como, onde?

Contudo, gostava de afirmar que achei interessante a saída de cena tão rápida dos responsáveis da equipa UCC-União Ciclista da Charneca. É preciso verificar que segundo a actual lei, tem de haver investigação. É bom que aja. É uma oportunidade de fazer uma limpeza, e aferir da verdade e do bom nome dos envolvidos.

A imagem do ciclismo precisa de renovar-se. Precisa de novas pessoas mais sérias, pelos vistos. Principalmente no seio das equipas profissionais, com métodos fiáveis que consigam dissuadir possíveis prevaricadores. Sobretudo com mais trabalho, sério!


De acordo com Peter Mcquaid:

"Um médico mostrou estatísticas sobre parâmetros sanguíneos de ciclistas europeus e também de fora da Europa. Os parâmetros de alguns ciclistas de Espanha e de Portugal eram anormais. Porquê? Não sei. O que posso pensar é que alguns ciclistas não aceitam que a cultura de doping terminou e continuam a tentar enganar o sistema. Mas quero esclarecer que é apenas um pequeno grupo de ciclistas espanhóis e portugueses. A grande maioria dos europeus aceita que o ciclismo seja limpo.”


Mais, o CERA segundo esta noticia:

"A CERA foi uma das últimas EPO sintéticas a serem desenvolvidas. Mas a colaboração entre a farmacêutica, a Roche, e a Agência Mundial Antidopagem (AMA) atingiu níveis inéditos: logo a partir de 2004 a Roche começou a ceder à AMA amostras e documentação sobre o medicamento, com marca comercial Mircera, que só recebeu autorização para entrar no mercado europeu em Julho de 2007. E um ano depois os laboratórios antidoping já tinham total capacidade científica e legal para declararem positivos por CERA.

"A CERA possui a mesma estrutura que a EPO clássica, de primeira geração. O seu efeito dura mais tempo e exige apenas uma injecção por mês”, afirmou recentemente Neil Robinson, responsável pelo despiste de EPO no laboratório de Lausana, explicando que este medicamento “representa um conforto para os hospitais, mas não para quem se dopa, pois o seu período de detecção no organismo é mais longo". Para Robinson, as EPO continuarão a ser uma grande ameaça ao desporto. "Fonte Duarte Ladeiras

Então quem foi a mente iluminada que arriscou prescrever estes medicamentos?
Se não prescreveram então houve o quê, trafico? Enquadramento legal e pumba, choldra!
Vários, ao que parece, já arriscaram, em troco do desemprego e duma machada sem igual na imagem do ciclismo português. Pior, fizeram-no a todos os outros que jogam limpo. Fizeram mal a todos os outros que se esforçam por tornar (e aguentar) o ciclismo vivo!

Não são visionários, pensam curto ao melhor sentimento justino. Sacar o máximo. Depois logo se vê! Dessas pessoas ninguém precisa. Estamos fartos. Vão-se embora, dêem lugar a pessoas mais sérias, com mais princípios!

Estou triste, porque o ciclismo para mim não é isto. Não me venham com a desculpa da exigência da alta competição por favor.
Trabalhem mais, e melhor especificamente, porque com base nas declarações do Mestre Tiago Aragão parece que andamos a meio gás. Além disso é preciso mais profissionalismo como ele nos diz em outras declarações.
Leiam a sua tese de mestrado e tirem conclusões.

“Volta a Portugal: Mestre Tiago Aragão concluiu que pelotão português é obrigado a respirar mais que elite internacional”
Porto, 02 Ago (Lusa) - O consumo máximo de oxigénio (VO2max) e os valores de potência máxima aeróbia dos ciclistas portugueses são inferiores aos encontrados na elite velocipédica internacional, concluiu Tiago Aragão, na tese de Mestrado de Treino de Alto Rendimento.
Treinador personalizado de ciclistas, Tiago Aragão realça a existência de um novo atleta, capaz de não defraudar nas etapas de uma prova, sejam elas alta montanha ou contra-relógio.
No estudo realizado, Aragão concluiu que o pelotão português, em média, regista valores de potência máxima aeróbia inferiores, deduzindo igualmente que os atletas mais baixos e com menor massa corporal são tendencialmente trepadores.”

Mas temos de olhar por esta perspectiva, mais optimista:

Cada vez mais, vão saltando os ratos do barco! E isso é uma oportunidade de pensar em fazer um trabalho sério de raiz. Por isso estou de acordo com várias pessoas com quem tenho falado.
É preciso começar de base, com o ciclismo utilitário e de lazer, como base de sustentação. As pessoas que como nós, desfrutamos do ciclismo enquanto desporto saudável. Por isso cada vez mais me inclino para o ciclismo de lazer, utilitário e para o ciclismo de formação. Eu tenho a certeza de que existem por ai mais portugueses de palmo e meio com melhores e naturais capacidades físicas do que os actuais ciclistas, segundo Tiago Aragão. Só que não foram ainda descobertos. Se forem é preciso protegê-los e afastá-los da velha cultura da "pastilha". Sobretudo dos ex-pastilhados!
Para já, acho que estamos perante uma morte anunciada das actuais organizações, caso toda a gente não mude de postura e adopte estratégias mais concordantes com as boas praticas. Morte anunciada se rapidamente não souberem alterar o percurso para novas e mais diversificadas áreas que o ciclismo possibilita. Lá está, a base de sustentação...

Passemos a ser mais profissionais e menos amadores, com menos visão limitada., seguindo as indicações de Tiago Aragão. Eu acho que aqui está uma grande oportunidade de recomeçar. Doa a quem doer!

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Volta para Domingo - 20-09-2009

No próximo domingo a volta tem como ponto de reunião o Gradil, às 09h00 no cruzamento com a nacional (Malveira-Torres)
Percurso com cerca de 100 km a ser definido em função do estado anímico dos participantes!

terça-feira, 15 de setembro de 2009

As voltas e as aventuras serranas: Guarda-Torre-Guarda


Correspondendo ao desafio proposto pelo camarada Vasa, desloquei-me à cidade mais alta de Portugal para uma jornada de montanha de grande exigência. Atractiva quanto baste para me meter à estrada para mais de 600 km de automóvel em menos de 24 horas, à procura de ciclismo ao seu mais alto nível, engodo imperdível para quem, como eu, aprecia e pratica com dedicação a bela modalidade. E para todos os que amam a «pequena rainha» - como os francesas apelidam, com devoção, a bicicleta.
O percurso era minimamente... convidativo! Cerca de 160 km, em versão mais racional do megalómano traçado original (200 km) proposto pelo desmedido duo: Vasa e Manso «Cancellara». Este, mais acessível (!!), incluiu passagens pela Guarda, Torre por Manteigas, Penhas Douradas por Sabugueiro e regresso à Guarda pelo caminho inverso, com ascensão final a partir de Valhelhas.
Apenas quatro participantes. O «Cancellara» era presença segura, mas enfermou de uma otite e ficou de baixa. À partida, da zona Norte da Guarda, eu (Ricardo), o Vasa, o Xico Aniceto e o Rui Torpes. A mulher deste, Maria, corria por fora, cumprindo, em solitário a secção nuclear do trajecto: Manteigas-Torre-Sabugueiro-Penhas-Manteigas. Sim, leram bem!
Eis a crónica de uma verdadeira prova de superação física e anímica, que fica registada na memória, pela grandeza das dificuldades que se impuseram, pelo sofrimento inerente, e pelo prazer do ciclismo de alta montanha e, claro, pela sua concretização.
Como se não bastassem as próprias exigências da jornada serrana, estas acentuaram-se devido a fortíssimo factor exógeno: o intenso calor. Pouco depois das 8h30, na Guarda, os termómetros já marcavam 26º C. Pronúncio de canícula.
Assim, o aquecimento nitidamente dispensável, pela elevada temperatura, fez-se... a frio, pela necessidade de forçar os músculos nos primeiros 4 km da tirada, em subida a 5,5% que cruza a cidade da Guarda, de Norte para Sul. Antes de começar a finalmente descer, primeiro por patamares, durante 14 km, atravessando aldeolas ainda adormecidas, e depois em vertente mais longa e constante (8 km) em direcção ao vale, a Valhelhas, as minhas sensações não eram as melhores, considerando que me (nos) esperava. As pernas embrulhadas e a sede precoce não pronunciavam dia bom.
Ao descer a caminho de Valhelhas, ficou-se a saber o teríamos de «passar» no regresso. Principalmente, a lindíssima subida quando se deixa estrada entre Manteigas e Belmonte, em direcção à Guarda. Não é dura, com 4,5% de inclinação média, mas com mais de 130 km nas pernas não se antevia tão acessível.
A descida foi fresca e relaxante, após o começo exigente e abafado na Guarda. Aproveitou-se para deslizar a 50 km/h, cortando as curvas de uma estrada muito bem asfaltada àquela hora inteiramente por nossa conta. Em Valhelhas, o mercúrio confirmava a fresquidão matinal no sopé da Estrela. A longa descida, a ritmo tranquilo, foi óptima terapia para o corpo, que dava indicações de melhoria.
Mas o sol (ameno) foi de pouca dura. Em 45 minutos ou 20 km, de ligação a Manteigas em falso plano ascendente, que à medida em se aproxima Manteigas se vai tornando cada vez mais ascendente e menos falso plano, a temperatura subiu para os 31º C. Novo «aquecimento» forçado e uma vez mais desnecessário antes de atacar a subida à Torre, a primeira grande (e a maior) dificuldade montanhosa.

A Torre
Nos primeiros quilómetros, duros, o quarteto «individualizou-se», com cada elemento a meter o seu andamento para enfrentar a longa e difícil ascensão. O Xico destacou-se ligeiramente após o Viveiro das Trutas e na frente andou isolado durante algum tempo, até ganhar a companhia do Rui Torpes, que se adiantara depois de ter permanecido ao meu lado nas primeiras inclinações fortes. O Vasa cedo «meteu» o seu passo, mantendo-se em posição mais recuada.
No primeiro terço da subida, o Rui foi ganhando paulatinamente vantagem sobre o Xico (20/30 metros), e este o dobro sobre mim, até que ambos pararam para abastecimento na fonte natural, ainda a meio caminho do cruzamento de Piornos. Quando passei no local, juntaram-se – mas também por pouco tempo. Separava-nos porventura menos de 1 km/h, mas como se sabe é «muito» em alta montanha e, neste caso, com tanto que havia para percorrer naquele dia, o ideal era forçar apenas o estritamente necessário. À passagem pelo cruzamento de Piornos/Covilhã mantinha-me a cerca de 20 segundos do duo, que agora não se desfazia. O Vasa seguia, à risca, o seu próprio ritmo. Acumulava desvantagem, mas ganhou muito com isso...
Durante a segunda e última fase da subida (depois da descida de Piornos) comecei a recuperar lentamente para os homens da frente, alcançando-os quase em simultâneo com a Maria, em pedalada leve e fluida, já depois do túnel. O Rui, qual macho extremoso, ainda manifestou a intenção de permanecer em solidariedade conjugal, mas fêmea mandou-o à sua vida. Mulher-desportista auto-suficiente, que provou classe e fibra. Ele (o macho) acedeu sem estrebuchar e aproveitando a deixa meteu o seu andamento, destacando-se definitivamente até à Torre, onde chegou com cerca de 30-40 segundos de vantagem sobre mim e o Xico – este, pelo «forcing» efectuado quando me assomei, pareceu não quer abrir mão do segundo lugar na contagem pelo prémio da montanha. Sempre é Categoria Especial!
O Vasa chegou cerca de 5 minutos depois, compensando a lacunas em alta montanha com sábia gestão de esforço. Nessa altura, já a Maria concluíra a sua subida, como se não fosse nada e decidida a continuar na nossa peugada, rumo às Penhas Douradas. Insisto: impressionou-me a sua capacidade e gosto pelo ciclismo!
No ponto mais alto de Portugal Continental, a 1993 metros de altitude, faziam 27º C, imagine-se o que nos esperava lá em baixo...

Penhas Douradas
A descida da vertente de Seia, para o Sabugueiro, tem asfalto novo, impecável, e as inclinações metem respeito após a Lagoa Comprida. Até ao Sabugueiro, a aldeia mais alta de Portugal, a paisagem é estonteante. Só a precaução ao «negociar» o sinuoso traçado da estrada não permitiram que mergulhasse o olhar nas arrebatadoras vistas sobre a serra. Lavagem de alma... e de pernas, agora folgadas depois de intenso esforço na subida para a Torre. Contam-se 18 km nem sempre a descer até ao cruzamento das Penhas Douradas, à saída do Sabugueiro. Tranquilamente, eu e o Torpes fizemos média de 42 km/h, o Vasa e o Xico registavam estranho atraso, que motivou um compasso de espera antes de atacar a subida para as Penhas.
O Xico passava mal, ainda em descida, que a partir daí impunha toada moderada ao restante terceto. O trajecto de ligação entre o Sabugueiro e a estrada Gouveia-Penhas Douradas faz-se inicialmente em subida (4 km a 6%) e depois em falso plano ascendente (9 km a 1%) até ao Observatório Meteorológico. A ascensão nada acrescenta aos colossos que a circundam, a estrada é rugosa e o alcatrão tem troços degradados e até a paisagem é inóspita, tal como o tráfego automóvel, quase nulo.
Todavia, logo que se passa o parque de merendas da Penhas e se inicia a descida para Manteigas é o... deslumbramento! O Vasa alertou para o cenário à nossa direita, vista esplendorosa sobre Manteigas e o vale do Zêzere, por onde se descortina o serpentear da subida para a Torre pelas encostas escarpadas. Ainda por aí tínhamos passado há pouco mais de duas horas. Impressionante é também a vista sobranceira sobre Manteigas, que está literalmente debaixo de nós - contudo, a 17 km de distância. Por isso, a descida é toda enrolada, em ganchos sucessivos, qual Alpe D'Huez. A sua inclinação é suave (3,6%), mas se lhe retirássemos cerca de 4 km ganharia certamente grau de dificuldade e tipologia comparáveis ao mais célebre «col» alpino. Caiu no goto, ficando a vontade unânime de a subir em próxima ocasião. Recorde-se que foi rota da última edição da Volta a Portugal.
À chegada a Manteigas, aguardava-nos o... inferno. Tórrida soalheira sob 35 ºC. Urgente reabastecimento, líquido e sólido, na nossa base, estabelecida no veículo em que a Maria se deslocou desde a Guarda, e que a levaria de regresso depois de concluir a sua prova.
O ar seco acentuava o efeito escaldante. Logo que retomámos a marcha, após «litradas» de líquidos ingeridas, sentíamos a massa de ar de quente que se deslocava ao movimento da pedalada a envolver-nos as pernas.

O que restou...
Na ligação a Valhelhas, pela primeira vez na já longa tirada afectou-nos sermos tão escassos em número. Recomendava-se cooperação de esforços na condução do grupo e nunca quatro pareceram tão poucos. Aliás, três, descontando o Xico que não estava em condições de contribuir. Mesmo com o termómetro a subir até aos 39 ºC, fez-se o trajecto (14 km) a média superior a 38 km/h. Mas a partir de Valhelhas, a estrada voltava a empinar. Os «tais» 8 km a 4,5%... debaixo de torreira: 41 ºC.
Ao longo da subida, as forças iam-se esgotando... mas não para todos. O Torpes parecia energizado, com baterias novas e queria gastar todas as reservas que acumulara ao longo da tirada, que convenhamos, foram muitas. Está em nível superior aos demais: competição, treino, capacidade inata de trapador – tudo junto num cocktail que na altura de rapar o fundo ao tacho, é muito mais consistente.
A propósito, enquanto subíamos controlando o desgaste do Xico, Vasa tem mesmo uma «tirada» que só o muito sol apanhado na moleirinha perdoa. Às tantas, quando o Torpes se deixa a atrasar ligeiramente, tentando, uma vez mais, contactar a mulher em vão - devido ao descarregamento dos telemóveis (de ambos!!) -, o mentor desta fantástica iniciativa serra tem a seguinte expressão impregnada de ingenuidade: «Rui, o andamento vai muito alto?». Ouvi, franzi a testa e baixei a cabeça sobre o guiador à procura de mais um gole de água. A resposta, com dúvida, foi isenta de vaidade: «Não percebi o que disseste?», inquiriu o mau receptor, talvez incrédulo como eu. Repetiu-se a pergunta, com as letras todas. Então, a resposta não poderia escapar. Foi cortante, por ser tão exacta e caiu como balde de água fria: «Não, vai muito baixo!». O Vasa deve ter percebido finalmente que o Torpes estava a marcar passo. Pelo nosso, baixiiinho...
À medida em que ascendíamos na cota do terreno, o ar ficava ainda mais seco, acentuando a sede e a fadiga. Descobriu-se uma torneira num tanque de lavar roupa de um casebre com aspecto abandonado. Bebeu-se e entornou-se pelo corpo em quantidade que dava para lavar de toda a família. Os SMAS da Guarda facturaram.
Finalmente o topo! E logo uma descida, infelizmente curta. Seguida de uma estranha rajada de ventos cruzados, daquelas que alimentam os incêndios que teimavam (ou teimam) em lavrar na região. Apenas com o anúncio do final das maiores dificuldades ganhou-se alma nova, e até o calor pareceu conceder-nos uma trégua. Seria ilusão de pré-insolação?!
O relevo tornou-se, de facto, mais favorável. A Maria finalmente chegava de Manteigas, de carro, descansando o marido. Que voltou a aproveitar a deixa (como na Torre) para agora disparar em sprint até à Guarda, na derradeira subida da jornada. Também aí, entre o trio perseguidor, se descobriram forças inesperadas. O próprio Xico... renascia. Até ao local da partida/meta voámos à média de 40 km/h, infringindo a lei sobre circulação de velocípedes sem motor em vias rápidas. Valia tudo, após 6h12m de selim e 158,2 km, à média de 25,5 km/h. Outros dados pessoais: pulsação média: 145 bpm (máx: 178); calorias dispendidas: 5545.
Enorme desafio, amplamente cumprido, em percurso digno de uma Clássica estrangeira, do tipo da Etapa do Tour ou Quebraossos..., com 3000 metros de acumulado, verdadeiros «cols», passagens em altitude e, acima de tudo, enquadramento paisagístico fabuloso. Experiência que se recomenda e se quer repetida em anos vindouros – com temperaturas mais amenas, de preferência.
Quanto a mim, asseguro que trocaria uma daquelas clássicas estrangeiras por uma reedição de tirada deste género. Por isso, caro Vasa, tens a responsabilidade não deixar cair a iniciativa, e de a promover! Reunindo mais dois ou três poderosos – nem sequer se necessitam mais...-, ainda se fará melhor e mais facilmente! Mas quem é que aqui falou em facilidades?!
Para o ano, estarei lá! Comecem desde já a pensar no percurso, só para criar ansiedade...

Abraço

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

DOM 12SET09 Volta a Sintra

Uma breve interrupção nas crónicas das voltas nas Beiras e na Serra da Estrela. Falta descrever a ultima aventura protagonizada por um quarteto de valentes. Voltarei a esse relato logo que tenha...inspiração. Desculpem-me os que gostariam de ver descrita as sua aventura e demais interessados.

No próximo domingo existem duas voltas que recomendo. O Nuno Calado convidou-me para uma Volta por Sintra. O percurso é sobe e desce com passo moderado e certinho. Saem de Torres Vedras em direcção a Ericeira-Sintra e voltam por Póvoa da Galega. Parece-me interessante. Está determinado que os mais rápidos em subida devem fazer meia volta no alto e acompanhar os mais retardatários.

Os Pinas também têm uma Volta para estas Zonas que vai passa no Alto da Ereira, vindos de Torres Vedras. Retornam por Sobral de Monte Agraço, via Merceana.

Talvez para apoiar o Nuno Calado e mudar de ares vá com ele mais uns quantos compinchas.

Até lá digam qualquer coisa.

Abraços ciclómanos!

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

As Voltas e as aventuras Serranas -parte3-


Segunda feira. Estava combinado uma saída com o Manso que é natural desta região. Antes de sair bem cedinho, um imprevisto. A roda detrás tinha o pneu todo careca. Valeu a boa ideia de ter levado pneus suplementares, conhecendo já o asfalto desta região.

Após 30 minutos de atraso, encontro o Manso que tinha vindo ao meu encontro. Apesar de estar com o ouvido direito inflamado (otite), apareceu para uma volta que viria a ser épica. A sua proposta era: subir por Manteigas até Penhas da Saúde e voltar para a Guarda por Covilhã. Achei demasiado duro. Durante o percurso até Manteigas, concluímos que a subida até Penhas da Saúde seria muito dura para o estado físico do Manso. Assim, sugeri que subíssemos até Penhas Douradas, pois a inclinação dessa pendente é muito mais suave.
Durante o inicio da subida o calor começava a marcar presença. As curvas constantes ao sabor da encosta virada para o vale talhado pelo glaciar que existiu à milhares de anos, fornecem uma vista magnifica. As fontes de água fresca abundam. Após alguns quilómetros de subida, a missão foi encontrar uma dessas fontes. O Manso estava com pouca água nos seus bidons. A mim, fazia-me jeito água fresquinha. Numa dessas fontes, o prazer de sentir a agua na cara foi enorme. A temperatura da água contrastava com o calor que a sombra das árvores não conseguia evitar.

Uma vez em Penhas Douradas decidimos descer até Gouveia. A descida se efectuada com tudo metido, a velocidades mais afoitas, torna-se perigosa. A sua pendente é no máximo 6 %. Ficou decidido fazê-la num futuro breve. São 21,2 kms sempre a subir com uma paisagem belíssima a nossos pés, ou melhor a nossas rodas. A parte mais dura encontra-se no seu inicio, com 10%.

Tomámos a N17 em direcção a Vila Cortês, após chegados a Gouveia. As intermináveis rectas com pendentes nunca inferiores a 4%, acrescidas de vento frontal e do esforço realizado, estavam a dar os seus sinais, que justificaram moderação, com o Manso a avisar sempre que alguma era mais dura.
A comida também estava a desaparecer nos nossos bolsos. Resolvemos parar em Casa do Soeiro para reabastecer. Paragem que se revelaria errada, pelo menos para o Manso. O excesso de bebida (sumo "quase" natural de laranja), motivou problemas gástricos no meu amigo.

Após Porto da Carne, tivemos de parar. Pensei o pior, pois o seu aspecto, branco como cal, denunciava o seu estado. Após alguns minutos, restabeleceu-se. A subida de Porto da Carne até à Guarda é bastante fácil, entre os 3 e 5%. Ainda esperava-nos algumas latas de Coca-Cola até ao seu destino. Um telefonema, ditaria se o Manso acabava o seu sofrimento na Guarda ou em Cheiras, 20 kms mais à frente numa aldeia perto da que eu estava alojado. Afinal teve de prolongar com muita atitude até Cheiras. Grande Manso. Após esta aventura, como de costume, ainda me restaram forças para em jeito de conta-relógio, simulando uma chegada, atingir uns belos 350 watts de potencia constante até ao celebre cruzamento (onde se vira para Carvalhal) que teimava em não aparecer.

No total esta aventura de 6 horas e meia representava 182 kms com subidas a 1438 metros. Excelente!

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

As Voltas e as aventuras Serranas -parte2-


Para lá de Pinhel, a norte, surge no horizonte um pico que se destaca da paisagem. É a Serra da Marofa que domina majestosamente Castelo Rodrigo.


A estrada de Pinhel até ao alto da Serra da Marofa está em óptimas condições e são mais de 15 Kms até ao alto da Serra, após atravessarmos a ponte do rio Côa na estrada nacional 221.

A pendente média é de 4 a 7 % aumentando até 10% em algumas rampas na serra. A paisagem mais uma vez é deslumbrante. Como desconhecia a subida acalmei o passo, pois parecia que nunca mais acabava.
Depois de chegar perto da rotunda que nos conduz ao alto, que dantes era um cruzamento para Castelo Rodrigo, tive a companhia de um grupo de ciclistas espanhóis que visitavam aquelas paragens. O vídeo com música está em baixo.

A subida é entre pinheiros, que proporcionam uma sombra fresquinha. Durante o ultimo quilometro existe uma via sacra, o calvário, que retrata os últimos momentos de Jesus Cristo. Existe uma peregrinação todos os anos que tem como pano de fundo esta serra com esta etnoculturalidade religiosa, como podem ver no vídeo. São as casinhas, que dentro retratam cada passo da via dolorosa.




No final do vídeo estão os três ciclistas que não consegui alcançar. Também está o fotografo de uma localidade de Espanha com o qual troquei algumas palavras. Perguntou-me se eu era dali. Disse que não, que era do Oeste, perto de Lisboa. Uma simpatia estes espanhóis!



Abraços a Todos