domingo, 20 de setembro de 2009

Crise ou oportunidade?

Crise. Este é tema que assola a sociedade portuguesa.
Crise de valores que tem conduzido o país ao actual estado.
O ciclismo não é disso alheio. Especialmente o ciclismo de alta competição.

A crise tem origem no grego que quer dizer crivo. Ontem assistimos a uma popularidade do ciclismo, uma vez mais, pela negativa. Parece que por obra sabe-se lá de quem, e fruto de tantas coincidências, o ciclismo e a Liberty Seguros foram noticia de destaque nos principais órgãos de comunicação social que normalmente nem dão atenção a esta modalidade.

Após sentar-me em casa e remexer jornais, ver algumas noticias de agências de informação, verificar as fontes, etc, conclui que existem factos que vale a pena crivar.

Coincidências:

Prémio Liberty/Liberty vai às compras/Liberty Mutual em Portugal/Liberty Doping

Estranho...timing.

Quando se vai comprar, normalmente negoceia-se, e para isso, precisa-se de uma imagem reforçada,...forte, certo?

Posso estar enganado, é claro. Pode ser apenas uma coincidência fugaz, mas saltou-me à vista.

Ao caso, obviamente reprovável por parte dos envolvidos, que é uma machada para todos os projectos de ciclismo, surge um facto interessante. Quem é que forneceu a alegada CERA? Como é que alegadamente adquiriram a substância. E porquê, como, onde?

Contudo, gostava de afirmar que achei interessante a saída de cena tão rápida dos responsáveis da equipa UCC-União Ciclista da Charneca. É preciso verificar que segundo a actual lei, tem de haver investigação. É bom que aja. É uma oportunidade de fazer uma limpeza, e aferir da verdade e do bom nome dos envolvidos.

A imagem do ciclismo precisa de renovar-se. Precisa de novas pessoas mais sérias, pelos vistos. Principalmente no seio das equipas profissionais, com métodos fiáveis que consigam dissuadir possíveis prevaricadores. Sobretudo com mais trabalho, sério!


De acordo com Peter Mcquaid:

"Um médico mostrou estatísticas sobre parâmetros sanguíneos de ciclistas europeus e também de fora da Europa. Os parâmetros de alguns ciclistas de Espanha e de Portugal eram anormais. Porquê? Não sei. O que posso pensar é que alguns ciclistas não aceitam que a cultura de doping terminou e continuam a tentar enganar o sistema. Mas quero esclarecer que é apenas um pequeno grupo de ciclistas espanhóis e portugueses. A grande maioria dos europeus aceita que o ciclismo seja limpo.”


Mais, o CERA segundo esta noticia:

"A CERA foi uma das últimas EPO sintéticas a serem desenvolvidas. Mas a colaboração entre a farmacêutica, a Roche, e a Agência Mundial Antidopagem (AMA) atingiu níveis inéditos: logo a partir de 2004 a Roche começou a ceder à AMA amostras e documentação sobre o medicamento, com marca comercial Mircera, que só recebeu autorização para entrar no mercado europeu em Julho de 2007. E um ano depois os laboratórios antidoping já tinham total capacidade científica e legal para declararem positivos por CERA.

"A CERA possui a mesma estrutura que a EPO clássica, de primeira geração. O seu efeito dura mais tempo e exige apenas uma injecção por mês”, afirmou recentemente Neil Robinson, responsável pelo despiste de EPO no laboratório de Lausana, explicando que este medicamento “representa um conforto para os hospitais, mas não para quem se dopa, pois o seu período de detecção no organismo é mais longo". Para Robinson, as EPO continuarão a ser uma grande ameaça ao desporto. "Fonte Duarte Ladeiras

Então quem foi a mente iluminada que arriscou prescrever estes medicamentos?
Se não prescreveram então houve o quê, trafico? Enquadramento legal e pumba, choldra!
Vários, ao que parece, já arriscaram, em troco do desemprego e duma machada sem igual na imagem do ciclismo português. Pior, fizeram-no a todos os outros que jogam limpo. Fizeram mal a todos os outros que se esforçam por tornar (e aguentar) o ciclismo vivo!

Não são visionários, pensam curto ao melhor sentimento justino. Sacar o máximo. Depois logo se vê! Dessas pessoas ninguém precisa. Estamos fartos. Vão-se embora, dêem lugar a pessoas mais sérias, com mais princípios!

Estou triste, porque o ciclismo para mim não é isto. Não me venham com a desculpa da exigência da alta competição por favor.
Trabalhem mais, e melhor especificamente, porque com base nas declarações do Mestre Tiago Aragão parece que andamos a meio gás. Além disso é preciso mais profissionalismo como ele nos diz em outras declarações.
Leiam a sua tese de mestrado e tirem conclusões.

“Volta a Portugal: Mestre Tiago Aragão concluiu que pelotão português é obrigado a respirar mais que elite internacional”
Porto, 02 Ago (Lusa) - O consumo máximo de oxigénio (VO2max) e os valores de potência máxima aeróbia dos ciclistas portugueses são inferiores aos encontrados na elite velocipédica internacional, concluiu Tiago Aragão, na tese de Mestrado de Treino de Alto Rendimento.
Treinador personalizado de ciclistas, Tiago Aragão realça a existência de um novo atleta, capaz de não defraudar nas etapas de uma prova, sejam elas alta montanha ou contra-relógio.
No estudo realizado, Aragão concluiu que o pelotão português, em média, regista valores de potência máxima aeróbia inferiores, deduzindo igualmente que os atletas mais baixos e com menor massa corporal são tendencialmente trepadores.”

Mas temos de olhar por esta perspectiva, mais optimista:

Cada vez mais, vão saltando os ratos do barco! E isso é uma oportunidade de pensar em fazer um trabalho sério de raiz. Por isso estou de acordo com várias pessoas com quem tenho falado.
É preciso começar de base, com o ciclismo utilitário e de lazer, como base de sustentação. As pessoas que como nós, desfrutamos do ciclismo enquanto desporto saudável. Por isso cada vez mais me inclino para o ciclismo de lazer, utilitário e para o ciclismo de formação. Eu tenho a certeza de que existem por ai mais portugueses de palmo e meio com melhores e naturais capacidades físicas do que os actuais ciclistas, segundo Tiago Aragão. Só que não foram ainda descobertos. Se forem é preciso protegê-los e afastá-los da velha cultura da "pastilha". Sobretudo dos ex-pastilhados!
Para já, acho que estamos perante uma morte anunciada das actuais organizações, caso toda a gente não mude de postura e adopte estratégias mais concordantes com as boas praticas. Morte anunciada se rapidamente não souberem alterar o percurso para novas e mais diversificadas áreas que o ciclismo possibilita. Lá está, a base de sustentação...

Passemos a ser mais profissionais e menos amadores, com menos visão limitada., seguindo as indicações de Tiago Aragão. Eu acho que aqui está uma grande oportunidade de recomeçar. Doa a quem doer!

4 comentários:

  1. verdade desportivadomingo, 20 setembro, 2009

    A menção "mais profissionais" refere-se a equipas tipo Astana e outras equipas estrangeiras do escalão Pro Tour? De facto, em termos de droga, temos mesmo muito a aprender com eles. Mais uma vez os gajos do norte da Europa olham de lado para nós. A história repete-se. Só há uma coisa que não percebo: porque razão em todos os domínios humanos as drogas são permitidas menos no ciclismo? Estudas, consomes drogas para aguentares a pressão, ninguém te chateia. Acabas o curso, trabalhas num hospital, a fazer turnos de 16 horas, consomes drogas para aguentar a pressão, ninguém te chateia. Ninguém te chateia porque todos fazem o mesmo. Jogas futebol, consomes droga etc e tal, ninguém te chateia. (As primeiras notícias da Operácion Puerto indiciavam o dobro de futebolistas que ciclistas. Porque razão, de repente, tudo foi silenciado?) Porquê esta perseguição aos ciclistas? Estão com medo que a verdade desportiva seja adulterada? Sinceramente, não vejo grande diferença entre um Phelps utilizar um fato tipo tubarão que quase nada sozinho e um tipo qualquer que toma uma droga que o faz pensar que melhora o rendimento. Onde está a verdade desportiva entre uma equipa que tem dois médicos, quatro massagistas, quatro mecânicos, troca cassetes e correntes em cada etapa e outra que tem um médico que também é massagista e em que os ciclistas é que são os mecânicos, em que as cassetes "com um pouco de sorte ainda fazem mais dez etapas"? A questão mais importante: quem ganha com esta "moralização"? E porque razão as notícias e os apanhados saem a conta-gotas? E porque razão ninguém estranha o motivo pelo qual aqueles que aparentemente não se drogam ficam ali, perto do vencedor? Deviam ficar a léguas, se isto fosse verdade. Isto é, se fosse só o Nuno a tomar aquelas porcarias. Mas todo o pelotão estava drogado. Como pode ser de maneira diferente se, depois de uma etapa dura, vários ciclistas atrasavam-se 10, 20 minutos, arrastando-se penosamente até à meta e depois, no dia seguinte, lá estavam eles, frescos que nem alface, a ajudarem bravamente os seus capitães?
    Penso que este assunto merece um pouco mais de reflexão. Reflectir o que se entende por "verdade desportiva". E não aceitar de ânimo leve as palavras de um gajo qualquer, só por ser estrangeiro. Mesmo que seja aquele gajo que foi banido do desporto por não aceitar as regras do jogo (na altura) e que - coincidências? - agora manda no ciclismo mundial.

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  2. Curiosamente, ou talvez não, a maior parte dos desportistas que são apanhados nas malhas do doping andam muito perto do limite legal...
    Imaginem um condutor que é apanhado com o,49g/l de álcool no sangue e outro com 0,50 g/l. O segundo é multado e o primeiro segue livremente a sua viagem.
    Façamos a analogia com o ciclismo. Em ùltima análise aquilo que determina que um ciclista é batoteiro é tão simplesmente um teste em que excedeu os valores estabelecidos como limites legais.
    O ciclista não sabia que iria ser controlado, durante toda a prova, relativamente a uma substância de longa permanência no organismo? Nem ele nem os outros? Ou tinham um médico a garantir-lhes que não havia problemas? O mesmo médico que assim que estalou a bronca abandonou a "vuelta" para não dar má imagem à equipa que estava a companhar...
    E para quê tanto médico? Para garantir que os meninos tenham o antigripal a horas? Há álguem que não se lembre de pelo menos um atleta que tenha falecido no exercicio das suas funções - futebol, ciclismo, atletismo, etc... Se calhar foi a prova de esforço que foi forjada...
    Porque é que a grande maioria dos ciclistas de topo, a nivel mundial, foi apanhada nas malhas do doping? Vejam os top ten dos tours da última década e reparem em quantos foram controlados positivamente...

    O facto de o cenário nos outros desportos não ser melhor, em termos absolutos de verdade desportiva, não faz dos ciclistas inocentes, muito pelo contrário! Muito do doping que passou para outros desportos entrou pela porta grande das bicicletas da roda fina...
    As razões para tal prende-se com a predominância massiva da parte física relativamente à técnica. No futebol, por exemplo fácil - reconheço, a situação fosse como no ciclismo os atletas seriam corredores de 100 m...

    "A manifestação do ideal olímpico, através do equilíbrio mente, corpo e espírito, valoriza a verdadeira liderança, naqueles que aspiram à integridade pessoal e querem alcançar a excelência, ou seja, equilíbrio em qualquer actividade profissional, educativa ou pessoal"

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  3. Eu para estudar nunca tomei drogas, a não ser suplementos. Nem para trabalhar...
    Em parte tenta-se escamotear a verdade, isto é, aquilo que realmente acontece, no desporto e no dia a dia. Por isso defendo, investigue-se até ao fim. Trata-se de um problema de saúde publica, de segurança até, que pode alastrar para os mais jovens, (já anda por lá) a acreditar no primeiro testemunho!

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  4. Parece que ainda não lhe perdi o jeito...hoje confirmou-se, existe doping entre os mais novos. Vai-se lá saber como???

    Investigue-se.

    Bom trabalho, o dos jornalistas. Agora vamos ver o que isto vai dar. Um silêncio ensurdecedor?

    vamos culpar os jovens, que com acesso à informação conseguiram comprar "aquilo" na net?
    Ai, srs inspectores, srs inspectores..

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