segunda-feira, 4 de maio de 2009

03Mai09 Domingo - Cronica da Volta ao Barril


O titulo sugere aquilo que o treino do passado Domingo iria presentear.
O Barril lembra vinho e é uma localidade muito perto de onde vivi durante toda a minha infância. Foi no Barril que fiz a telescola. Os mais novos talvez não se lembrem, mas à uns anos atrás havia uma emissões na RTP2 dirigidas aos alunos. Havia uma programação e na hora devida os professores ligavam a televisão para vermos a lição que depois era complementada na sala de aula. High Tech à anos 80.

Mas falemos de ciclismo e de pessoas.
Saídos do Carvalhal, onde o Chico vive, deu para ver os avanços que a 4L teve nos últimos dias. Com 10 minutos de atraso rumámos até à Malveira, onde supostamente nos iríamos encontrar com o grupo de Loures. A meio da subida, o Freitas telefona ao Chico. Estavam a chegar a São Miguel de Alcaínça. Lá tivémos de endurecer o passo para recuperar.
Para ser honesto, o dia estava maravilhoso para se andar de bicicleta, mas apetecia-me pouco. As pernas estavam pesadas, com aquela sensação de que o resto está bem. E tinha razão, porque logo que aquilo acelerou à saída de Mafra para (sei lá dizer) alguém pontuar na rotunda da Paz, criou guerra. Quando se juntam alguns elementos, não sendo depreciativo com ninguém, gostam de se testar.
O Chico já apanhou a minha máxima:
-Lá estão eles a medir o tamanho das pilinhas...é coisa de macho, é viril, é...enfim, sem comentários, porque não se coloca um ritmo certo.

O relevo não ajudava e mal carregava mais um pouco, as pernas doíam mesmo muito ao ponto de apertar as mãos no guiador. Qualquer ciclista sabe qual é a sensação...a de apertar as mãos no guiador!
Na saída de Ribamar (Ericeira), alguns ficam para trás, porque o Runa tinha perdido o bidon naquelas lombas que eu acho demasiadamente perigosas. Noutros países, mais civilizados, melhor com responsáveis com mais bom senso, opta-se por outros meios que permitem a todos os utilizadores da via pública reduzirem a sua velocidade sem "esbarrarem" com aqueles altos.

Os que seguiram, incluindo eu, desacelerámos ao ponto de alcançarmos os restantes elementos do grupo de Loures que tinham continuado em Alcaínça. Não obtstante passam os elementos que tinham ficado para trás em grande passo. Eh, houve pessoas que tinham esperado...o que obrigou a acelar mais um bocadinho.
-Saber andar de bicicleta, dizia-me o Joaquim Gomes, é saber controlar o nosso passo e o dos adversários. Assim quando estamos mais doridos, evitamos os arranques bruscos que só servem para acumular mais acido lactido e para nos desgastarmos. Por isso não corri logo para a roda e deixei-me ir, progressivamente, "embalando a bicicleta", como ele dizia.
Pessoalmente acho que muita gente monta na bicicleta só por montar e toca de esvaziar-se em arranques que em nada contribuem para,... o convivio salutar que é o que se pretende quando se vai em grupo!

O Chico, entretanto que ia sofrendo tal como eu, resolve partir a corrente. Existem os que "furam", mas o Chico é mesmo assim, parte logo a corrente. Foi o motivo para desacelerar e trocar umas bocas "saudáveis e companheirescas" com outro companheiro de Loures. Felizmente ando preparado e tinha um desencravador que o mecânico de serviço (o tal companheiro) imediatamente pegou, sem antes avisar:
-Eu fico e vou convosco mas não é para aventuras...
Entretanto passavam os elementos mais atrasados:
-Já ai vão...lol disse ele.

Até à Murgueira ainda houve umas picardias com a minha bike, que teimava em não embalar na subida da Picanceira. De tal modo que até os grupos mais atrasados, alcançados no sopé, me estavam a ultrapassar. Inspirei fundo, e preguei uma abaixo, literalmente, baixei para uma mudança mais leve e acelerei rampa acima. Alcançei o Chico e o outro companheiro no alto que iam em amena conversa. Aliás foi sempre esse o lema desse periodo. Iamos alcançando grupetos sem forçar o ritmo.

Lá estavam os durões do dia à nossa espera na Murgeira, a beberem a regular Coca-Cola. O Freitas mete-se a caminho, dizendo que estava atrasado. Após alguns minutos o grupo segue-o. A subida do Codeçal até ao alto do Gradil foi feita a passo certo nos metros iniciais. O Chico resolve endurecer o passo e após segundos toda a gente mais atrasada tenta recolar. Deixei levar o passo que trazia, sem pensar para mim mesmo: bom não vou partilhar isso.
Com o mesmo passo regular acabei por alcançar os mais adiantados, sem forçar, sem estições, apenas com serenidade e de tal modo que ainda deu para fazer os ultimos metros com mais velocidade, para ganhar terreno que desse para tirar uma foto mais à frente. Na descida do Gradil o grupo não percebeu e passou sem que fosse possivel clicar.
Fica para a próxima.
Talvez porque o Barril...era o nome da volta... Deixei ir o grupo onde o Chico se integrava na retaguarda, olhando para trás para ver se eu ia arrancar. E arranquei, mas nas calmas. Tinham-me frustado a foto e isso não perdoo...Deu para, mesmo assim, fazer a subida de Vila Franca do Rosário, com dois ciclistas jovens que tinham passado por mim na altura da mijinha. Pelo seu andamento e postura devem estar a dar as primeiras saídas. Meti-me com um deles que via o seu companheiro a fugir e disse:
-Olha o teu companheiro está a ir-se embora. Vem comigo. Se colocares um passo certo eu levo-te lá. Vem comigo e não forces, se pesar fica, eu não te abandono.

E lá fomos sempre a ganhar terreno com paciência, com inteligência. Ao ponto do rapaz na saída da localidade ainda ter bofes para dizer:
-O ciclismo é duro...
-Não, não é, duro é não ser-se inteligente, e tentar responder de imediato, sem ponderar. É como na vida!
Na frente o Chico metia o passo e ninguém ousou sair para a frente.

Ciclismo é estratégia, É saber, é conhecimento de si mesmo. Também é superação e humildade. Empenos, quedas, maus julgamentos e decisões são comuns neste desporto, mesmo em termos recreativos. Por isso nos ensina tanto, se soubermos tirar daí lições, se estivermos atentos com a mente aberta e imparcial. Porque se a visão ficar turva e diminuida como faz o vinho, penso que pouco podemos disfrutar deste desporto.

Abraços ciclómanos!



2 comentários:

  1. Boa Vasa, gostei muito do comentário. O companheiro que tu falas na parte final ainda o levei até ao inicio da subida p/ Guerreiros (Alto da Freira)onde gritou "Obrigada e até á proxima".

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  2. Companheiro Vaza, é só para «picar» o ponto! Continua o bom trabalho. Vais a Fátima? E o Chico? Viu-o hoje em Alverca, no «seu» camião. Aliás, ele é que me viu a passar. Muito simpático, cinco estrelas.
    Apareçam, estamos a precisar de uma «mãozinha» poderosa... contra as forças do Mal. Não digas a ninguém, ehehe!

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